terça-feira, outubro 17, 2006

POR QUE A GUERRA? O anacronismo nas relações humanas

Publicado dois dias após o 11 de setembro de 2001

“Talvez um dos aspectos dessa complicada questão, resida no momento onde não exista mais a possibilidade de falar ou alguém com a capacidade de ouvir”


Em julho de 1932 Albert Einstein escreveu uma carta a Sigmund Freud , intitulada “Porque a Guerra?” , evidenciando suas preocupações em relação aos destinos da civilização. Dois meses depois Freud respondeu a Einstein de forma pessimista, dizendo ser impossível livrar o ser humano de suas inclinações agressivas, mas não deixou de salientar que o progresso da civilização passava por processos de evolução cultural com modificações psíquicas marcantes e inequívocas, o que fatalmente possibilitaria a longo prazo um destino diferente a tais inclinações.
Setenta anos após, a pergunta nunca esteve tão atual e a resposta, tão dificil de ser estabelecida de uma só vez. Mas diante do momento sombrio da atualidade, alguns questionamentos seriam pertinentes, ainda mais se nos detivéssemos no sentido amplo das guerras atuais.
O mundo não conhece apenas a presente guerra internacional contra o terrorismo mas, outras guerras não tão barulhentas, talvez até silenciosas em alguns níveis, secretas em outros, mas que sem dúvida, nos conduzem a uma melhor compreensão daquela.
É consenso que a palavra substitui a ação. Pedimos licença quando pretendemos ultrapassar fronteiras, expressamos descontentamento diante de uma adversidade qualquer, nos indignamos perante a barbárie. A sociedade elaborou códigos sempre passíveis de compreensão, para que possamos conviver sem a necessidade de parar no tempo como os animais. Até mesmo as crianças, quando ainda não adquiriram a maturidade da fala, expressam seus sentimentos permitindo uma perfeita comunicação.

Com a aquisição da linguagem e em especial da palavra, a maioria de nós se humanizou. Digo a maioria de nós, pois ainda restam dúvidas se podemos ver humanidade em violências cotidianas, como as milhares que visualizamos nos veículos de comunicação, cujo representante máximo é o que ocorreu com as torres gêmeas na América. Aliás, uma infinidade de atos totalmente diversos desta guerra, embora não possam ser nomeados como tal, possuem efeitos semelhantes, porém em doses homeopáticas. Guerra nas penitenciarias, guerra de traficantes, assalto, fome, seqüestros, guerras entre torcidas, guerras pessoais, e entre todas elas um denominador comum: a impossibilidade da palavra, da intermediação , da negociação.

Talvez um dos aspectos dessa complicada questão resida no momento onde não exista mais a possibilidade de falar, ou alguém com a capacidade de ouvir. Pois quando nada mais há a dizer, ou alguém que possa ouvir, só resta mesmo a ação. Ação meramente muscular ou bélica, independente dos instrumentos utilizados: do objeto cortante à bomba atômica. E a Palavra?

De forma inequívoca poderíamos pensar em maturidade e humanização correlacionando-as à proximidade ou distanciamento da capacidade de externalizar sentimentos e pensamentos através da fala, e na mesma proximidade ou distanciamento da capacidade de ouvir. Este acredito ser o grande desafio da modernidade; o desenvolvimento tecnológico triunfou. E o mental? Os aviões que atingiram as torres gêmeas na América em 2001 e os mesmos aviões que servem apenas para encurtar distâncias são produtos elaborados pelo desenvolvimento mental humano que só diferem em relação aos objetivos: construção-destruição.
Poderíamos virtualmente classificar pessoas, sociedades, países, governos e demais instituições aproximando maturidade e capacidade de expressão verbal ?
Tentar responder estes questionamentos nos remetem ao tipo de ação que os responsáveis pelas instituições de controle social tem efetivado preventivamente, e nos remetem ainda a um outro questionamento de difícil resolução: até quando parte da sociedade se portará como animais, a exemplo de Pitt-Bull-Laden?