segunda-feira, outubro 16, 2006

FUNDAÇÃO INOCÊNCIA

DISCURSO DE ABERTURA DA FUNDAÇÃO INOCÊNCIA/ 1995

A Fundação Inocencia foi uma ONG destinada a criar meios alternativos de sobrevivência para crianças desamparadas até 12 anos.



Houve um momento na história recente do nosso país, em que qualquer atividade destinada à área social só poderia ser executada pôr alguém que tivesse a grande maioria de suas necessidades pessoais satisfeitas. Pensar em si mesmo, era a ordem do dia.
Naquela época, movidos pôr uma convicção inabalável de que era necessário triunfar a qualquer custo, e com o ideal coletivo de sempre levar vantagens, conseguiram construir uma sociedade cujos efeitos não somente sociólogos podem sentir. Faltou sensibilidade para prever óbvio: que os desassistidos do passado seriam o grande sintoma social do futuro. Pois bem, o futuro chegou e se fez presente. O que fazer ? Acionar a indústria da proteção talvez fosse a solução : muros e grades, alarmes computadorizados, sistemas internos de televisão, cães de guardas, policias diversas, etc... Sabemos que todas essas medidas de segurança fazem parte dos dispêndios financeiros diários que somos obrigados a manter direta, ou indiretamente através de impostos. Há uma total impossibilidade de contabilizarmos todos os prejuízos materiais e espirituais que a omissão do passado aos descapitalizados nos proporcionou. E agora, o que fazer ?
Felizmente a apatia social de outrora parece estar sendo sucumbida pela ação eficaz. Parece que a nação brasileira finalmente despertou para uma realidade que sempre se recusou a ver.
Assistência social, faz parte hoje, de um conjunto de medidas não somente dos governos, mas também e principalmente, da iniciativa privada. Nunca se viu num só tempo, tantas pessoas envolvidas em tantos projetos destinados a reverter nosso “belo quadro social,” Mas é necessário coragem e determinação, mas principalmente ação. Somos vítimas de um tempo em que regras morais eram muito importantes do que a conduta ética.
A conduta etica implica responsabilidade, reflexão e ação.
Esta é a grande proposta de nossa fundação, que pelo que podemos observar já encontrou muitos adeptos.
Se pôr um lado falamos dos prejuízos que o passado nos deixou, imaginem só os que foram contabilizados pôr quem sofreu a ação do esquecimento. Não raro, somos incomodados e nos sentimos angustiados diante do estado de miséria pôr que passam a aqueles que mal tiveram tempo de ter uma infância; refiro-me aos meninos de rua, aqueles que cobram centavos pelo uso que fazemos do seu verdadeiro habitat.
Se pensarmos em justiça social, se pensamos em futuro um pouco melhor para nós e nossos filhos, devemos agir agora. Nosso estado possui características que o colocam em posição impar em relação aos outros estados. Trata-se de um estado novo, sem as grandes problemáticas dos grandes centros. Nosso estado pode e deve ser exemplo de uma sociedade que conseguiu vencer fantasmas que outras nem de longe poderiam superar, de uma sociedade onde o direito se transformou em fato.
Sra. E Srs.
Poucos são aqueles que detém a sabedoria de que o verdadeiro autor das histórias não é o historiador, mas sim, aqueles que a viveram, não fosse assim, não seria história, mas sim estória.
Acredito que todos vocês aqui presente, gostariam, de fazer parte de uma histórias bem diferente da que contamos. E todos nós sabemos que essa possibilidade existe, na medida em que partimos de um experiência que já sabemos o final.
Esperamos que a ação que neste momento se funda, não seja somente aquela que ampare e dê apoio aos que necessitam, mas principal e fundamentalmente, que resgate aquilo que necessitamos como alimento para a alma nos primeiros anos de vida, e que a grande maioria dos meninos de rua perderam: a INOCÊNCIA.